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Práticas de conservação do solo durante o vazio sanitário. Cuidando da biota dos solos!

A produção de grãos brasileira é mundialmente reconhecida. O Brasil permanece, safra após safra, em posições de liderança, como maior produtor e exportador de grãos do mundo, disputando esse lugar de destaque com outros grandes países produtores, como Estados Unidos e China.

Em trinta anos, o país e o mundo viram a produtividade brasileira saltar expressivamente, as exportações baterem recordes e a fatia da participação das commodities na economia do Brasil crescerem substancialmente.

Contudo, sustentar esses números conquistados pelos agricultores brasileiros é um desafio, ainda mais em anos como o da safra 2023/24. Marcada pela forte ocorrência do El Niño, a última safra passou por diversos eventos climáticos extremos que provocaram perdas significativas na produtividade de muitas culturas.

Diante desse cenário, o agricultor precisa estar sempre atento às práticas de manejo que vão além da proteção dos cultivos, como é o caso do vazio sanitário, uma medida consolidada por força de lei, amplamente difundida e aplicada no país.

Além de possibilitar o controle de doenças e pragas dentro dos sistemas produtivos, o vazio sanitário também representa uma janela de oportunidade, uma vez que, nesse período em que a cultura principal não pode estar presente no campo, o agricultor pode empregar técnicas de manejo para cuidar de seu maior patrimônio: o solo.

Qual a importância do vazio sanitário para a cultura da soja?

O vazio sanitário é uma medida que visa guardar a produção agrícola do país, sendo seu alvo principal a cultura da soja

Contudo, ao possibilitar uma redução da pressão de ocorrência de doenças e pragas dentro dos sistemas produtivos, por meio do impedimento legal da plantação de soja, essa medida também beneficia as outras culturas que são comumente cultivadas em sucessão a ela, como algodão, cana-de-açúcar, feijão, milho, trigo etc.

Publicadas em 13 de maio de 2024, por meio da Portaria SDA/MAPA nº 1.111, as datas de  vazio sanitário e o calendário de semeadura da soja para a safra de 2024/25 correspondem a um período de 90 dias em que não se pode haver nenhuma planta viva, cultivada ou voluntária, dessa cultura no campo.

Esse período se baseia no fato de que o tempo máximo de sobrevivência das estruturas reprodutivas do fungo causador da principal doença da soja no mundo, a ferrugem-asiática – causada pelo fungo biotrófico Phakopsora pachyrhizi – é de até 55 dias.

O vazio sanitário corresponde, portanto, a uma técnica de manejo preventivo vital para controlar a incidência de doenças e a população de pragas que migram entre as culturas de interesse econômico, e mitigar os riscos que podem levar à redução da produtividade ou até mesmo a quebras de produção dessas culturas.

Por isso, é essencial que os agricultores estejam cientes da importância dessa prática e, além disso, da janela de oportunidade que ela representa, utilizando esse tempo de entressafra para empregar técnicas de manejo do solo que podem possibilitar um incremento na produtividade de seus sistemas produtivos.

E qual é a importância de um manejo conservacionista do solo?

O solo é um dos principais recursos da agricultura, pois serve como a base onde a produção de alimentos é possível ao fornecer suporte estrutural, água e nutrientes para plantas cultivadas, sendo amplamente considerado o segundo fator mais importante na agricultura, logo atrás do clima.

O incremento ou a manutenção da produtividade dos sistemas produtivos em climas tropicais muito provém do manejo dos solos

Inicialmente, a fertilização dos solos aumenta sua produtividade, mas, com o tempo e, eventualmente, o negligenciamento do manejo, problemas como erosão, compactação, redução da matéria orgânica e da atividade microbiológica podem comprometer a estabilidade desse ganho ou, ainda, em cenários mais alarmantes, representar uma queda na produção.

Um manejo benéfico de solos é composto por práticas que vão desde o melhor aproveitamento dos nutrientes, passam pela preservação da microbiota ali presente, até a mitigação da ocorrência de compactação e erosão, o que ajuda a controlar a incidência de plantas daninhas.

Mas, para isso, é preciso compreender o cenário como um todo, conhecendo os pilares que compõem a sustentabilidade dos atributos do solo.

Quais são os pilares que compõem a sanidade do solo?

A saúde do solo é o elemento essencial que possibilita a produtividade dos ecossistemas, representada por uma interação complexa de fatores físicos, químicos e biológicos. Esses três pilares são essenciais para manter a fertilidade, a estrutura e a funcionalidade do solo, sendo eles:

  • Físico: estrutura, agregação, aeração, infiltração e capacidade de armazenamento de água do solo.
  • Químico: disponibilidade de nutrientes, pH, equilíbrio de nutrientes, ausência de elementos tóxicos e formação de um perfil favorável ao desenvolvimento radicular do solo.
  • Biológico: diversidade de micro e macrorganismos, ciclagem e biodisponibilidade de nutrientes, supressão de patógenos e capacidade de promoção do crescimento vegetal proporcionado pelo solo.

Contudo, cada um desses elementos pode ser afetado caso o manejo do solo seja negligenciado, sendo representado por um dos desafios a seguir:

Desafios do manejo físico do solo: erosão e compactação

A erosão é o fenômeno de perda do solo, o que inclui a remoção de nutrientes, matéria orgânica e organismos vivos. Apesar de ser um processo natural que contribui para a renovação dos solos, quando em descontrole, a erosão consiste num processo de degradação do solo.

No Brasil, estima-se que mais de 500 milhões de toneladas de solo sejam perdidas anualmente. Quando ocorrem nos primeiros centímetros do solo, que são os mais férteis, essas perdas representam ainda mais prejuízos para a agricultura.

Os prejuízos causados pelos processos erosivos são evidentes, principalmente na redução da fertilidade do solo nas áreas afetadas, além do assoreamento e da poluição de rios, tanto interiores quanto marinhos, devido ao transporte contínuo de materiais orgânicos e minerais para os corpos d’água. 

Já a compactação do solo, geralmente, ocorre como consequência não desejada da mecanização. Ocasionada pelo tráfego frequente e localizado ou, ainda, pelo revolvimento intensivo do solo, a compactação pode interferir negativamente no desenvolvimento das plantas ao tornar o solo menos propício para o crescimento das raízes.

O tráfego excessivo, associado ao crescente aumento de tamanho e peso dos equipamentos, muitas vezes sem o ajuste proporcional da largura dos pneus, pode provocar compactação do solo em diversos sistemas de manejo, alterando a estrutura do solo, ao afetar diretamente sua densidade e porosidade, e impactando na infiltração de água, no crescimento das raízes e na produtividade das culturas instaladas.

Desafios do manejo químico do solo: plantas daninhas

Foto: EMBRAPA.

O manejo de plantas daninhas em cultivos agrícolas no período de entressafra é tão crucial quanto no período da safra, uma vez que as plantas daninhas não apenas competem eficientemente por recursos como água, luz e nutrientes, mas também podem servir como hospedeiras secundárias para pragas e doenças, facilitando a perpetuação delas nos sistemas produtivos. 

Por isso, o controle de plantas daninhas pode ser considerado uma estratégia dentro do manejo integrado de pragas e doenças, afetando indiretamente a sanidade de culturas de interesse econômico.

Contudo, o controle de certas espécies de plantas daninhas pode ser desafiador devido à resistência a herbicidas e aos altos índices de germinação dessas plantas. Nesse sentido, o emprego de uma cobertura adequada do solo durante a entressafra é essencial para prevenir a emergência e o crescimento dessas plantas, bem como sua subsequente produção de sementes, que contribuem para a manutenção do banco de sementes no solo.

Desafios do manejo biológico do solo: a microbiota

A microbiota do solo, também conhecida como biota do solo, consiste na variedade de microrganismos presentes no solo, tais como: bactérias, fungos, vírus, protozoários e nematoides de vida livre, entre outros. 

Esses organismos desempenham um papel crucial na sustentabilidade e na produtividade do solo, sendo essenciais para a saúde dos ecossistemas agrícolas. Por isso, manter uma microbiota saudável no solo é vital para o sucesso da agricultura e proporciona benefícios consideráveis tanto para a produção agrícola quanto para o meio ambiente.

A função principal da microbiota do solo é a decomposição da matéria orgânica, processo que transforma os resíduos orgânicos em nutrientes assimiláveis pelas plantas. Além disso, contribuem para a fixação de nitrogênio e ajudam a proteger as plantas contra pragas e doenças, fortalecendo, assim, a resiliência das culturas a essas e outras adversidades.

A saúde do solo está intrinsecamente conectada à existência de uma microbiota diversificada e ativa. Além dos benefícios já mencionados, os microrganismos no solo também são fundamentais para melhorar a estrutura do solo, pois aumentam a sua capacidade de reter água e reduzem o risco de erosão.

Por isso, é essencial preservar e construir uma microbiota saudável no solo, a fim de assegurar sua fertilidade e sustentabilidade por um longo período. Nesse sentido, quais são as práticas de manejo integrado de conservação dos solos que os agricultores podem adotar durante o vazio sanitário?

Como aproveitar o período do vazio sanitário para implementar um manejo conservacionista do solo?

A conservação do solo abrange um conjunto de práticas de manejo pensadas para preservar ou restaurar as características físicas, químicas e biológicas do solo. Essas práticas são implementadas por meio de manejos que visam mitigar os efeitos dos fatores que contribuem para a degradação do solo e os processos erosivos.

Para um manejo racional do solo, é importante adotar práticas que otimizem suas potencialidades ao mesmo tempo que são ambientalmente sustentáveis, economicamente viáveis e socialmente justas. Tais como:

Plantio de plantas de cobertura

O plantio de plantas de cobertura no solo é uma técnica de manejo que consiste em utilizar plantas para cobrir a superfície do solo.

O uso de culturas de cobertura durante a entressafra pode melhorar significativamente as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo. Essas culturas também ajudam no controle de plantas daninhas, pragas, doenças e nematoides, além de aumentarem o teor de matéria orgânica, protegerem contra a erosão e apoiarem o sistema de plantio direto.

Além disso, a cobertura do solo é benéfica para o meio ambiente, pois aumenta o sequestro de carbono e reduz as emissões de gases de efeito estufa, auxiliando na mitigação das mudanças climáticas.

O emprego das plantas de cobertura também contribui significativamente com:

  • a geração de renda;
  • a reciclagem de nutrientes;
  • o manejo conservacionista do solo;
  • a produção de matéria orgânica;
  • a descompactação do solo;
  • o manejo integrado de plantas daninhas, pragas, doenças e nematoides.

Devido às diversas condições climáticas e ambientais no Brasil, é importante que a escolha das culturas de cobertura seja adaptada especificamente para cada região, evitando generalizações. 

É essencial compreender também quais culturas são mais adequadas para o verão e quais são ideais para a cobertura no inverno.

A seleção de espécies de cobertura deve considerar o ambiente e a cultura subsequente e, após essa análise, o produtor pode definir sua estratégia de rotação de culturas, enriquecendo o sistema produtivo com a escolha da planta mais apropriada. 

Emprego da rotação de culturas

A rotação de culturas é uma prática agrícola que consiste em alternar diferentes tipos de culturas em um mesmo campo ao longo de um determinado período de tempo. Essa prática é benéfica por várias razões: 

  • melhora a fertilidade do solo,
  • diminui a erosão,
  • ajuda no controle de pragas e doenças
  • eleva a produtividade das lavouras.

Além disso, a rotação de culturas contribui para a diversificação dos cultivos, fortalecendo a capacidade dos sistemas agrícolas de se adaptarem a variações climáticas.

A rotação de culturas durante a entressafra também pode ser implementada para gerar receita. Essa abordagem prioriza culturas que podem proporcionar retorno econômico ao agricultor. Comumente, são plantadas espécies que produzem grãos e cereais, ou biomassa utilizada na alimentação animal.

De outra forma, as culturas de cobertura selecionadas podem também proporcionar retorno financeiro, mas podem ser escolhidas principalmente por seus benefícios agronômicos, como o manejo de nematoides, a descompactação do solo, e sua capacidade de não servir como hospedeiros secundários para pragas e doenças.

Em ambos os cenários, a rotação de culturas protege o solo, evitando que a lavoura fique ociosa. Além disso, essa prática ajuda a reduzir a disseminação de plantas daninhas e a combater o banco de sementes indesejadas para a próxima safra.

Finalmente, a rotação de culturas enriquece o solo com matéria orgânica de alta qualidade, o que melhora a retenção de água e a disponibilidade de nutrientes para as plantas.

De modo geral, essas duas práticas de manejo, o emprego de plantas de cobertura e  a rotação de culturas, são indispensáveis quando a meta é realizar o bom manejo de entressafra.

O vazio sanitário oferece uma janela de oportunidade ideal para a realização desses manejos, pois, uma vez que as lavouras estão impossibilitadas de terem sua cultura principal presente, os agricultores podem executar essas medidas conservacionistas visando cuidar do solo para, assim, terem melhores condições de manter ou ainda de incrementar sua produtividade.

E, para ficar por dentro das melhores recomendações de cuidado para a sua lavoura, confira os outros conteúdos do Blog Vittia.

Amanda

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