Atualmente é difícil participar de algum evento, “live”, reunião, grupo de “whatsapp” com outros produtores ou mesmo uma roda de conversa com colegas agricultores onde o tema de controle biológico não seja mencionado. Assim como cansamos de ouvir em 2020 sobre o novo normal que vivemos em virtude da pandemia, o uso de produtos biológicos é o novo normal da agricultura moderna.
Embora seja tratado como um assunto novo ou como uma inovação do agronegócio, o fato é que desde que o gato percebeu que o rato era uma excelente fonte de alimento e que o ser humano notou poderia utilizar do apetite do bichano para evitar com que seus grãos fossem comidos pelo roedor, que o controle biológico surge.
Os primeiros relatos do ser humano fazendo uso dessas interações ecológicas (ex.: predação; parasitismo; competição; etc.) para controle de pragas vem da China Imperial, onde os agricultores introduziam colônias de formigas em suas lavouras para controlar pragas do citrus.
Desde então, diversos são os relatos do uso de controle biológico na agricultura e até mesmo na medicina, como foi o caso da descoberta da penicilina em 1928, quando o distraído Alexandre Fleming, ao sair de seu laboratório para curtir um feriado, deixou uma placa de petri contendo a bactéria Staphylococcus sp. aberta e ao retornar, notou que um fungo havia crescido na mesma placa e estava produzindo uma substância que inibia o avanço desta bactéria, dando origem então ao primeiro antibiótico a ser usado pela medicina.
Dado o histórico do controle biológico, fica claro que ele não é tão novo assim, mas se já temos conhecimento dessa ferramenta desde o tempo dos imperadores chineses, por que só agora estamos falando disso?
A resposta é simples: Porque agora precisamos dessa ferramenta para produzirmos mais e melhor!
O uso de defensivos químicos sempre foi predominante em nossa agricultura, principalmente pelos aspectos práticos de produção e manejo, pois, é muito mais simples levar um inseticida contido em um frasco fechado para ser aplicado no controle de pragas, do que ter que buscar um formigueiro, correndo o risco de ser picado, as formigas escaparem, morrerem no caminho e ainda chegar no local onde será aplicado, um tamanduá comer o restante das formigas que sobreviveram ao transporte.
Desta forma, principalmente devido à facilidade de produção e manuseio, os químicos dominaram o mercado, porém, aprendemos à duras penas que o uso inadvertido e indiscriminado dos defensivos químicos acaba por gerar populações de pragas e doenças resistentes, levando as empresas de defensivos a buscarem novas moléculas que contornassem essa resistência. O fato que o aparecimento de populações resistente vem acontecendo em uma velocidade maior que o surgimento de novas moléculas.
A EMBRAPA monitora desde a safra de 2003/2004 a eficiência das principais moléculas químicas no controle da mais devastadora doença da soja no Brasil, a ferrugem-asiática (Phakopsora pachyrhizi). Neste monitoramento observaram que o controle obtido utilizando alguns fungicidas vem caindo ou apresentando eficiência inferior à 60% (figura 1). Esses resultados reforçam a necessidade de utilizarmos novas ferramentas que venham integra o manejo integrado de pragas e doenças (MIP) e não favoreçam o surgimento de organismos resistentes. Desta forma os produtos biológicos surgem como a alternativa mais óbvia e adequada para cumprir esse papel.
Mas uma dúvida ainda paira sobre o uso dos biológicos: E a parte operacional? Afinal, nossos antepassados tinham que ir até o topo de montanhas para trazer formigueiros inteiros para poder fazer o controle biológico. Eis que justamente nesta área que estão as maiores inovações que o mercado de controle biológico vem experimentando.
Atualmente temos muito mais conhecimento e acesso à diversos novos microrganismos que tem ação de controle sobre pragas e doenças, não ficando restrito somente àquilo que podemos criar em uma placa de petri. Também cada dia mais dominamos como cria-los e estabilizá-los em formulações que sejam tão ou mais práticas e eficientes quanto os produtos químicos.
Exemplos práticos dessas inovações são os produtos da linha Biovalens, como o Meta-Turbo SC, inseticida registrado para controle de importantes pragas de difícil controle, como o percevejo-castanho (Scaptocoris castânea), que é produzido através de fermentação liquida sendo apresentado na forma de suspensão concentrada, contendo não somente conídios do fungo, mas estrutura vegetativas e altamente infectivas, aumentando a velocidade de ação e eficiência do Meta-Turbo SC.
Outro exemplo é o Bio-Imune, primeiro fungicida biológico registrado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para controle da ferrugem asiática da soja (Phakopsora pachyrhizi), formulado com o isolado exclusivo de Bacillus subtilis BV02. Sua formulação líquida, além de conter alto número de bactérias na forma de endósporos (estrutura de resistência), também apresenta alta concentração de lipopeptídeos e enzimas com ação fungicida e bactericida produzidas pelo B. subtilis BV02. Esses metabólitos que estão presentes no Bio-Imune são parte do sucesso do produto para que seja eficiente no controle até das doenças mais agressivas, como é o caso da ferrugem asiática da soja.
Como podemos ver, diferentemente do novo normal que nos foi imposto pela pandemia em 2020, o novo normal da agricultura veio para ficar e cada vez mais queremos adotar em nossas lavouras. Não somente porque está na moda ou porque o vizinho está usando, mas porque funciona, são tão práticos ou mais que os defensivos químicos e precisamos deles para produzirmos mais e melhor!
Referência bibliográfica:
GODOY, C. V., et al. Eficiência de fungicidas para o controle da ferrugem-asiática da soja, Phakopsora pachyrhizi, na safra 2019/2020: resultados sumarizados dos ensaios cooperativos. Embrapa Soja-Circular Técnica (INFOTECA-E), 2020.
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