Categories: Nutrição Vegetal

Avanços sobre o uso de magnésio na citricultura

Fonte: Informativo Centro de Citricultura, 293. Outubro 2019

 

As dificuldades fitossanitárias enfrentadas pelos citricultores nos últimos anos os forçaram a adotar novas tecnologias, as quais proporcionaram ganhos em rendimento por área. Nesse novo patamar de produtividade, o suprimento adequado de nutrientes para o pomar se torna fundamental, não apenas por favorecer o potencial produtivo das plantas, como também por influenciar na qualidade dos frutos.

No passado, em pomares de citros com produtividade média inferior a 20 toneladas por hectare, a demanda da planta por magnésio (Mg) era exclusivamente satisfeita pela calagem, praticamente não havendo necessidade de aportes extra do nutriente. No entanto, nos novos cenários da citricultura, cujos pomares são cada vez mais produtivos, a complementação do nutriente com outras fontes fertilizantes, em especial aquelas de maior solubilidade em água, se torna necessária para a manutenção da sua produtividade e qualidade.

Além dos ganhos em produtividade, outros fatores vêm intensificando a demanda de Mg pelos pomares cítricos, tais como: (i) cultivo em solos ácidos e intemperizados, nos quais os teores de Mg trocáveis são inerentemente baixos e competem com outros cátions, em especial o potássio (K); (ii) perda de qualidade de frutos, em especial aqueles destinado à indústria; (iii) aumento do uso da fertirrigação que proporciona maior percolação de cátions no perfil do solo, como cálcio (Ca) e Mg, e maior acidificação da região do bulbo úmido, o que reduz a disponibilidade de Mg; e (iv) mudanças climáticas cada vez mais frequentes e associadas à temperaturas extremas do ar, como ondas de calor, o que consequentemente aumenta a foto-oxidação das plantas.

Os sintomas de deficiência de Mg ocorrem comumente em folhas maduras e são caracterizados por clorose internerval com um aspecto de “V” invertido, que inicia nas margens das folhas e progride para o amarelecimento de todo limbo foliar (Figura 1); outros sintomas como queda prematura das folhas com sintomas e prejuízos à qualidade dos frutos também podem ser observados.

Os atuais ganhos em produtividade não têm traduzido necessariamente ganhos em qualidade da fruta, tanto para a produção de suco concentrado (FCOJ – frozen concentrated orange juice) quanto de suco não concentrado (NFC – not from concentrated). Segundo dados da CitrusBR (www.citrusbr.com) até a década passada eram necessárias, cerca de 230 caixas (40,8 kg) para se produzir uma tonelada de FCOJ (66 °Brix). No entanto, nos últimos anos esse valor subiu para algo em torno de 265 caixas/t de FCOJ. Esse menor rendimento industrial vem forçando a indústria produtora de suco a remunerar os citricultores de forma diferenciada, prática pouco comum no passado. Apesar de forma ainda tímida, hoje existem contratos nos quais são dadas bonificações em função da qualidade da fruta.

O Mg influencia o balanço de carboidratos entre a fonte e os drenos como raízes, flores e frutos (Hermanns et al., 2005). Desse modo, a concentração do nutriente na planta está diretamente relacionada com o acúmulo de açúcares no fruto. Em estudo no qual objetivou estudar fontes e doses de calcário verificou-se que o acréscimo na dose de calcário dolomítico aumentou de forma linear a disponibilidade de Mg para os citros e a concentração de sólidos solúveis (°Brix) nos frutos (Figura 2 A; Quaggio et al., 1992). Resultados semelhantes entre o teor de Mg foliar e a porcentagem de sólidos solúveis em frutos cítricos também foram observados quando se utilizou uma fonte solúvel de Mg aplicada no solo (Figura 2 B; Boaretto et al., 2015).

Na principal região brasileira produtora de citros, tem sido comum a ocorrência de eventos climáticos extremos, como ondas de calor que chegam a ter duração de 4 a 10 dias, com temperaturas máximas acima de 40 ºC e baixa umidade do ar.

 

Quando esses eventos ocorrem durante os estágios iniciais de florescimento e de frutificação podem promover o abortamento de flores e queda de chumbinhos e, quando a ocorrência eles se dão em etapas mais avançadas de desenvolvimento dos frutos é comum a queima da casca, em especial naqueles localizados na face oeste da planta, que ficam expostos ao sol da tarde, causando ainda danos às vesículas de suco. Ambas as situações podem acarretar perdas tanto de produtividade quanto de qualidade. 

Neste sentido, o manejo otimizado do Mg pode minimizar o impacto da alta radiação e temperatura, uma vez que este nutriente está diretamente relacionado com a integridade das clorofilas e ativação de enzimas relacionadas à fotossíntese e ao sistema antioxidante. Em estudos com plantas de citros expostas à alta radiação luminosa verificou-se que uma adubação suplementar de Mg aumentou as trocas gasosas foliares, a assimilação de CO2 e a eficiência de carboxilação instantânea, indicando que a planta foi mais eficiente no uso da energia luminosa capturada e na fixação de CO2. Além disso, plantas que receberam suplementação de Mg apresentaram maior ativação de enzimas envolvidas na desintoxicação das espécies reativas de oxigênio (EROs), como a superóxido dismutase (SOD), que reduz o O2 para H2O2, que em seguida será transformado em H2O e ½O2 por outras enzimas como a glutationa redutase, que teve sua atividade aumentada com o aumento do suprimento de Mg para a planta (Figura 3). Os resultados desse trabalho indicam que aportes extras de Mg podem proporcionar às plantas maior tolerância a condições de estresses bióticos e abióticos, o que impactará em ganhos de produtividade e qualidade para os pomares cítricos. Essa é uma das pesquisas atualmente em desenvolvimento no Programa Fisiologia da Produção, do Centro de Citricultura Sylvio Moreira. 

 

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